
Autor: Teresa Wilms Montt
Tradução, seleção e posfácio: Luiza Nilo Nunes
Fotografia de capa: Laura Makabresku
1ª edição: maio de 2019
Características: 176 páginas (A5)
Edição Bilingue
PVP: 11, 00€ (portes de correio incluídos)
Sou Teresa Wilms Montt
e ainda que tenha nascido cem anos antes de ti,
a minha vida não foi assim tão diferente da tua.
Eu também tive o privilégio de ser mulher.
É difícil ser mulher neste mundo.
Tu sabe-lo melhor que ninguém.
Vivi intensamente cada fase e cada instante da minha vida.
Ressumei mulher.
Quiseram reprimir-me, mas não me conseguiram frear.
Quando me viraram as costas, eu dei a cara.
Quando me deixaram sozinha, fiz companhia.
Quando quiseram matar-me, dei vida.
Quando quiseram encarcerar-me, busquei liberdade.
Quando me amavam sem amor, eu dei mais amor.
Quando quiseram calar-me, gritei.
Quando me golpearam, protestei.
Fui crucificada, morta e sepultada,
pela minha família e pela sociedade.
Nasci cem anos antes de ti
mas vejo-te igual a mim.
Sou Teresa Wilms Montt,
e não sou recomendável para senhoritas.
***
Stigmata, a antologia, vinha então abrir um círculo de chagas e feridas, talvez extemporâneas, mas ainda assim originárias de uma voz que rasurava a conjetura de um falso estado de plenitude e apostava as suas forças numa brutal escavação ontológica. Com uma linguagem confessional e exótica, os seus textos eram sintomas perturbatórios e implicavam uma dureza e uma coragem vertical, porque exploravam os cenários das catástrofes universais e mais íntimas, domésticas mas não domesticáveis. Ao rejeitarem a higienização do putrescível, transmutavam a mudez do processamento do luto e as cicatrizes da perda em matéria simbólica, isto é, em poemas cujas significações, embora ligadas à experiência do sofrimento, não deixavam por isso de ser objetos de fruição. “
do Posfácio Um exercício fúnebre por Luiza Nilo Nunes